03/11/2009

Simples assim


A coisa não é fácil,
nem difícil.
É criar um riso novo,
estar cheio de graça,

viver as teclas da máquina,

dormir no meio da praça.

A coisa não é fácil,
nem difícil.

É ter um violão na sala,
plantar avencas no quintal,
deixar o coração pendurado,
estender roupas no varal.

A coisa não é fácil,
nem difícil.

É assim, é assado,
cheio de temperanças,

pulsações, esperanças,

plurais fora do lugar.

(1981, para o show Coração de Varal)

07/05/2009

O Instante


Traçando cada linha, cada passo.
Seguimos nosso destino
Entre claves, notas e compassos.
Horas em adágio,noutras stacatto
Dor e felicidade em total harmonia
Oitava acima, oitava abaixo...
Surpreendente sinfonia.
Não acompanhamos o metronomo.
Soltos, largamo-nos na deliciosa valsa...
Buscando a liberdade de ter dono,
Mergulhar na vontade esquecida.
E é neste som suave eletrizante,
Onde os corpos em transe levitam
Na apoteóse do derradeiro instante,
Que a vida retoma o tom.
Desaparece a platéia.
(com Vinícius "Vinny' Ulrich)

06/05/2009

Acordes

Pode começar a tocar
Danço o ritmo que vier

o compasso que escolher,

nem preciso que cante.

O som me eleva, enleva

Em claves, colcheias

Do teclado que tateia

tant
a nota dissonante.
Tom acima, ou abaixo

Devagar traço o passo

Giro corpo, solto a alma

o rasante, elegante.
Nova pauta se desenha

Além do papel, desden
ha 
Desliza livre de escalas
Num só acorde... acorde

21/04/2009

O que é?



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É o medo que te tolhe
Ou não enxergas além,
Aquém.
É o toque que te acolhe
Ou não o sentes macio,
Frio.
É o vazio que te recolhe
Ou não recebes no colo,
Tolo.
É o ódio que te encolhe
Ou não conheces a flor
Amador

Saudades

-->
Sinto muitas saudades
de um modo diferente.
Nem seres, nem cidades,
só do que vem à frente.

Vejo caminhos tortos,
Muitas luzes, sombras.
Num intenso movimento
a alma ascende, vibra.

Barquinho de papel
leve em mar revolto,
sob a guarda do céu
chego a novo porto.

Sou de pouca pressa,
sobra tempo, ainda,
na melancolia inversa
de que se chama vida.

07/04/2009

Andanças


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Estou de mudança.
Quase nada vou levar
nesta nova andança.
Na bolsa, cigarro
batom,
as chaves
de tantas casas.
Deixo as do carro.
Vou em frente, atrás,
percorro notas musicais
volto, sigo a dança.
Retorno ao barro,
tateio cartelas de cores,
decifro o alfabeto,
provo da fruta,
sorvo a frangância
da liberdade.
Não sigo só,
levo alguma lembrança,
na alma,
carrego muitos afetos
no peito,
conduzo outros sonhos,
pela mão.

04/04/2009

Contas

Ungiste meu colo

com teus segredos,

contas em frágil

e tênue fio

que te envolve o dolo,

te desafia os medos.

Para ti as guardo

e desfio como rosário

de culpas tão perenes

quanto pedras do rio

nas águas que te fogem:

não mais as mesmas,

como não és também.