Até quando
a língua solta
as pernas céleres
a força no braço
a empunhar bandeiras
Até quando
a vela acesa
os tantos afazeres
os ganhos a laço
o erguer trincheiras
Até quando
a língua
as pernas
a força
até quando.
10/10/2021
Tempo tempo
Avesso
Se sigo do avesso
será que alcanço
a tempo o passo?
Será que ultrapasso
o que não conheço?
A que preço
se dará o começo?
Espero, confesso
Um novo regresso
22/08/2021
À luz
Por trás dos olhos
por baixo do pano
um útero velado
dará à luz
(sempre dará)
um brado sagrado.
por baixo do pano
um útero velado
dará à luz
(sempre dará)
um brado sagrado.
14/07/2021
Uma rua
de nome que lembra flor.
Ali se cultivavam
pencas de filhos
vizinhos de quintal
namoros de muro
bandeirinhas na fria
noite de São João.
Na festa junina
tudo se misturava
carros de fora
barracas dentro
comida para todos
quentão para animar.
Tinha até quadrilha
daquelas pra dançar
arrodear a moça
queria se casar
segurava a barriga
pro pai não espiar.
Uma rua curtinha
de nome que lembra flor.
09/06/2021
Cilada
Não era amor
o que me trazia
entre margaridas
presas em um buquê
Não era amor
o que me servia
no pequeno copo
na mesa vazia
Não era amor
o que me fazia
quando se deitava
na minha pele fria
Era sim amor
o que me movia
quando, desacato,
me dei alforria. (bf)
05/05/2021
Trancada
Trancada, esquisita,
essa minha escrita
que entra pela janela
pródiga de vida
encolhida.
Recolhe, ainda aflita,
voos de liberdade,
alegria de passarinho,
um aceno do vizinho.
Vigia sempre, contrita,
desenhos nas nuvens,
a chuva inclemente,
o penar do poente.
Trancada, esquisita,
essa minha escrita,
que esparrela,
encontra a mulher
e se lambuza dela.
28/03/2021
Poesia andarilha
Bem lá no começo
da minha rua
a poesia se escondia
nas florinhas roxas
desmaiadas no asfalto.
A cada passo
brincava comigo
ora pique, ora esconde,
até amarelinha
para chegar ao céu.
Em alguma esquina
se perdia
para voltar ligeira
e chorar de amor
dizer que era minha.
Bem lá do final
da minha rua
a poesia ainda acena
e mostra no arco-íris
um buquê de versos.
25/02/2021
Adiamentos
Adiou a manicure
adiou a costureira
adiou até a festa
de mais um aniversário
Adiou o vestibular
adiou a viagem de férias
adiou até a compra
do biquini de todo ano.
Adiou os sonhos
adiou o amar fremente
adiou até o plano
de viver mais que pouco.
Desgaste
Desgaste desgosta
desengate da dor
destramele a língua
desenferruge a alma
descambe por ai
desembestando vida afora.
Distração
O que me distrai são as letras
escritas ou por escrever
embaralham-se
quebram minha cabeça
desde o primeiro f+o FO
brincando no colo do avô.
escritas ou por escrever
embaralham-se
quebram minha cabeça
desde o primeiro f+o FO
brincando no colo do avô.
08/02/2021
Estações
Era verão
eu acho
quando recolhi o cachorro
soltei os vasos na chuva
prendi a vida na gaveta.
Era outono
eu penso
quando arejei os armários
empilhei os livros na mesa
comprei uma ampulheta
Era inverno
eu lembro
quando desci os cobertores
improvisei uma adega
varei as noites desperta
Era primavera
eu suponho
quando reabri as janelas
contemplei mil estrelas
vi a lua crescendo lenta
Era verão
eu acho.
Assinar:
Postagens (Atom)